CRER, FÉ
Verbo | Grego: πιστεύω (pisteúō) | Strong: G4100
249 ocorrências, sendo as três primeiras em Mt 8:13, 9:28 e 18:6.

Substantivo | Grego: πίστις (pístis) | Strong: G4102
243 ocorrências, sendo as três primeiras em Mt 8:10; 9:2,22.

Em grego, idioma original do Novo Testamento, tanto o verbo “crer”, quanto o substantivo “fé”, possuem a mesma raiz, sendo palavras de semelhante sentido.1 Em língua portuguesa, no entanto, não existe um correspondente verbal para “fé”, de modo que geralmente se utiliza o verbo “crer” na tradução de pisteúō para o português.2

Porém, relacionar “fé” com “crença” trata-se de uma redução do significado mais profundo que originalmente os termos pístis e pisteúō possuíam. Fé não significa somente se acreditar em algo, mas significa também “confiança” e “fidelidade” com o propósito de se aderir a alguém.3

Sendo assim, crer em Jesus não significa meramente se acreditar em fatos a seu respeito, mas trata-se de haver confiança em sua pessoa e fidelidade para com ele. Quem realmente tem fé em Cristo não apenas crê que ele existiu, mas também confia nele como seu Salvador e busca obedecê-lo como seu Senhor. Para facilitar a memorização deste significado original de , podemos utilizar três palavras iniciadas com a letra C:

FÉ = Crer + Confiar + Comprometer-se

Sendo assim, uma pessoa que declara ter fé em Jesus, somente estará em Cristo se crer nele de modo tão confiante a ponto de se comprometer em segui-lo, demonstrando fidelidade pela prática dos seus ensinamentos. Do contrário, não há verdadeira fé, mas apenas uma crença. Eis o motivo para epístola de Tiago afirmar categoricamente que “a fé sem obras é morta” (Tg 2:17,26).4 Isso não significa que sejamos salvos por obras, mas sim que a verdadeira fé em Jesus resultará em boas obras, pois neste caminho do bem o Senhor nos ensinou a viver. “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou.” (1Jo 2:6).

Uma ressalva. A depender do contexto, os mesmos vocábulos pístis e pisteúō podem dar maior ênfase para apenas um dos seus três aspectos, enfatizando mais a crença, ou a confiança, ou a fidelidade.5 Porém, em tais ocorrências, o próprio contexto nos faz perceber se deve haver um entendimento mais restritivo. O mais importante, no entanto, é compreendermos que as ocorrências do verbo “crer” e do substantivo “fé” no Novo Testamento não possuem um sentido passivo em relação a Cristo, do mero acreditar intelectual, mas de um envolvimento profundo da pessoa inteira – eis o verdadeiro crer e a verdadeira fé.


Notas

1. Há também o adjetivo πιστός (pistós), geralmente traduzido como crente ou fiel. Exceção para 3Jo 5, onde se traduz como fielmente, na maioria das versões.

2. A dificuldade na tradução de pístis e pisteúō foi percebida desde o início do quinto século, quando Jerônimo de Estridão concluiu sua tradução da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata. Não havendo palavra que traduzisse pístis com exatidão, Jerônimo optou por fides, vocábulo latino cujo sentido é mais aproximado, significando . Porém, não havendo em latim um correspondente verbal para fides (tal como em grego há entre pístis e pisteúō), Jerônimo cometeu o equívoco de escolher o verbo credere – tradução que deu início à errônea identificação de fé com crença. Melhor seria Jerônimo não ter conjugado pisteúō com credere, mas traduzi-lo por “ter fé”, mesmo isso resultando em duas palavras como tradução de apenas uma.

3. O tradutor francês André Chouraqui, compreendendo que fé significa aderir a alguém, foi radical em sua tradução dos evangelhos, optando por traduzir pístis como “adesão”, e pisteúō pelo verbo “aderir”. Em João 11:25, por exemplo, encontramos Jesus dizendo, na versão de Chouraqui: “Quem adere a mim, mesmo se estiver morto, viverá.” Outro tradutor, Marcelo Musa Cavallari, escolheu “confiança” e “confiar” como melhores opções, de modo a traduzir o mesmo versículo como: “O que confia em mim, mesmo que morra, viverá.” Quem está certo? De certa forma, ambos, pois ter fé em Jesus também significa confiar nele a ponto de haver total adesão, ou seja, de alguém estar e permanecer em Cristo.

4. Alguns afirmam que Tiago 2:24 estaria contradizendo o que Paulo declarou a respeito da justificação pela fé em Romanos 3:28. Porém, apesar desses dois versículos mencionarem fé e obras, não se trata do mesmo tipo de obra. Paulo está se referindo a obras da lei, mas o contexto da epístola de Tiago não se refere a obras da lei, mas a obras de amor ao próximo, as quais resultam de uma verdadeira fé em Jesus Cristo. O mesmo Paulo dirá, escrevendo aos Efésios, que somos “criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2:10) A esse respeito Nijay K. Gupta, erudito em Novo Testamento, concluiu: “Paulo não tinha problema algum com as obras em si. Suas cartas estão intensamente voltadas ao fazer o que é bom e correto como uma questão de obrigação (e.g., 1Ts 5:15-22; Gl 6:9,10).” – Paulo e a Linguagem da Fé, 1.ed., 2023, Thomas Nelson Brasil, p.224.

5. Uma relação dos versículos onde há essas ocorrências está em fase de preparação para ser aqui adicionada.

Autor: Sou um seguidor de Cristo sem rótulo denominacional, autodidata, pesquisador independente do Novo Testamento e da história do cristianismo, dedicado a ensinar o evangelho e compartilhar meus conhecimentos gratuitamente, sem qualquer barreira e influência institucional. Porém, não sendo assalariado, admito necessitar de ajuda para prosseguir nesta missão, pois constantemente preciso adquirir livros que são raros e caros, os quais contém informações não disponíveis na internet, mas que tenho compartilhado gratuitamente. Sendo assim, agradeço muito se puder retribuir, tornando-se um apoiador do meu trabalho, seja com uma doação pontual ou mensal. Assim poderei continuar me dedicando a pesquisar e compartilhar minhas descobertas, bem como as conclusões a que tenho chegado. Gratidão!
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