Quem sou?
Boa pergunta... Dizer que meu nome é Alan Capriles, e que sou o responsável por este site não revela muito a meu respeito. Então, tentarei responder contando um pouco da minha história, porém focando nos principais pontos da minha trajetória cristã, que é a parte que mais lhe interessa. Creio que isso revelará algo importante sobre mim, e talvez também sobre você.
Nasci em 1970, na capital paulista, filho único de pais católicos não praticantes. Como vendedor profissional, meu pai necessitava viajar muito a trabalho, e, sendo assim, pouco tempo permaneci em São Paulo. De tempos em tempos necessitávamos nos mudar, de modo que, ao longo da minha infância, passamos por todas as regiões do Brasil. Em algumas cidades permanecemos poucos meses, como no caso de Belém e Campo Grande, por exemplo. Em outras moramos por anos, como em Fortaleza, Londrina e, finalmente, no Rio de Janeiro, onde permanecemos residindo por toda a década de 1980.Primeiro contato com a religião
Uma vez fixados no Rio de Janeiro, meus pais conseguiram para mim uma bolsa de estudos num dos melhores colégios do bairro de Botafogo, onde morávamos. O colégio, que já não existe mais, chamava-se Santa Rosa de Lima e, sendo ele dirigido por freiras dominicanas, o ensino religioso era uma das matérias exigidas. No entanto, eu só viria ser um católico assumido após setembro de 1985, quando participei de um Encontro de Adolescentes com Cristo. O evento nada tinha a ver com o colégio, mas tratava-se do 15º EAC que ocorria pela Igreja de São João Batista da Lagoa, a mais importante catedral católica do bairro.
Ao final do evento, que se tratava de um retiro de dois dias, ganhei como recordação daquele EAC um exemplar do Novo Testamento. Fiquei muito feliz com o presente, pois até então não havia uma Bíblia em minha casa, e então comecei a leitura prontamente. No entanto, não demorou muito para que eu percebesse, ao longo da leitura do Novo Testamento, o quanto o catolicismo havia se distanciado da simplicidade dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, chegando a ponto de contradizê-los. Porém, eu nada contestava.Curiosa coincidência
Por aquela mesma época houve no colégio um trabalho em grupo na aula de história, onde os alunos deveriam representar como seria o julgamento de Martinho Lutero. Poderíamos participar ativamente dessa enquete, escolhendo um personagem, ou apenas fazendo parte do grupo que escreveria os argumentos de acusação, ou do grupo que defenderia aquele "herege". Até hoje me recordo das gargalhadas dos colegas de classe quando a professora perguntou quem desejava representar Lutero, e eu prontamente me candidatei. Os risos ocorreram porque fui o único a levantar a mão. Como advogado de defesa tive o auxílio de um colega de classe muito inteligente, com o qual tive que me reunir para estudarmos sobre a vida de Lutero, e assim tentar livrá-lo da fogueira. Levamos isso tão à sério que fomos num sebo comprar livros sobre o tema. Como resultado, e para a surpresa de todos na classe daquele colégio católico, a defesa foi brilhante, e Martinho Lutero foi absolvido de todas as acusações.O início do meu despertar espiritual
Estudar sobre Lutero me fez entender que, assim como ele, eu não deveria ignorar as contradições entre os ensinamentos de Jesus e as doutrinas de qualquer religião que se diga cristã. Sendo assim, comecei a fazer questionamentos sinceros, mas que passaram a incomodar o casal responsável pelos adolescentes daquela igreja católica. Eu não fazia por mal, mas apenas queria entender as razões para haver divergências. A oportunidade para meus questionamentos ocorria nas reuniões que antecediam a missa das 18 horas. O casal convidava todos os adolescentes e jovens que haviam participado de algum EAC para nos sentarmos em círculo e conversarmos. Nessas ocasiões eu pedia a palavra para fazer a leitura do Novo Testamento em algum ponto específico que a tradição católica parecia ignorar ou contradizer. Porém, minhas dúvidas nunca eram devidamente respondidas. Até que chegou o dia em que levantei a mão para um novo questionamento e fui propositalmente ignorado. Quando insisti, o casal informou que eu estava proibido de ler a Bíblia para questionar qualquer coisa. Perguntei o porquê, e a resposta foi direta, porém sincera:
- Porque suas perguntas estão causando confusão.
Após alguns segundos de silenciosa indignação, minhas palavras foram:
- Se não posso fazer perguntas sobre a Bíblia que vocês me deram de presente, então a partir de hoje sou protestante.
E imediatamente me retirei para nunca mais retornar àquela igreja. Logo descobri que nem aquele casal, e nenhum daqueles jovens católicos que eu pensava serem meus amigos realmente se importavam comigo, pois nunca me procuraram após aquele episódio. Porém, ao declarar “sou protestante” não tive a intenção de dizer que eu iria para alguma denominação religiosa ligada ao protestantismo. Foi apenas o que me ocorreu dizer naquele momento, mas certamente por influência dos estudos que recentemente eu fizera sobre Martinho Lutero. Mas eu não tinha intenção alguma de me tornar protestante, no sentido religioso, embora os católicos considerem qualquer pessoa que não seja católica como protestante. Porém, mesmo com aquela pouca idade, minha leitura pessoal do Novo Testamento já me fazia entender que não necessitamos de um rótulo de católico ou protestante para sermos seguidores de Cristo. Tanto é verdade que, certa vez, dias após esse episódio, eu estava almoçando na casa do colega que fora o advogado de Lutero, e sua mãe me perguntou:
Minha experiência no meio evangélico
Eu não sabia, mas aquela senhora, mãe daquele colega, era evangélica. Por isso, quando declarei ser cristão, ela abriu um sorriso, imaginando que eu também fosse evangélico. Ela então me convidou para conhecer a sua igreja, pois disse que eu não poderia continuar assim, seguindo a Jesus Cristo sem fazer parte de uma instituição religiosa cristã. Não concordei com o argumento dela, mas, por curiosidade e educação, atendi ao seu convite. Foi assim que conheci e passei a frequentar as reuniões na igreja onde ela congregava, e onde meses depois fui batizado. Porém, o que me atraiu não foram as reuniões no chamado “Templo da Igreja Pentecostal de Nova Vida”, mas os encontros com poucos irmãos que ocorriam semanalmente na casa daquela irmã. Essas reuniões, apesar de informais, eram promovidas pela instituição, que as rotulava como “grupos de vida”. Porém, não havia hierarquização, mas simplicidade e liberdade para se comentar a respeito do texto bíblico que era lido. Foi esse tipo de reunião que me manteve no meio evangélico. Em contrapartida, as reuniões convencionais que ocorriam no “templo”, em formato de auditório, me incomodavam um pouco, pois me faziam lembrar da missa católica. Eu percebia que, eclesiasticamente, o protestantismo é a mesma coisa que o catolicismo, porém com nomenclaturas diferentes. Continuava havendo um local sagrado, um formato de auditório, um sacerdote, uma hierarquia, um ritual, alguma hipocrisia, e doutrinas particulares da instituição, que iam além do que Cristo havia ensinado.Um salto no tempo
Eu gostaria de também contar sobre momentos muito importantes que vivi, tais como o casamento com minha amada Rosa, em 1992, e o nascimento de nossos amados filhos, Filippe e Gabriel. Mas, necessitando ater-me ao que diz respeito à minha trajetória cristã, devo comentar apenas que minha esposa, sendo evangélica e filha de pastor, exerceu forte influência no que contarei a seguir. Refiro-me à minha própria ordenação pastoral, a qual ocorreu em 08 de abril de 2000, em São Gonçalo, cidade metropolitana do Rio de Janeiro.Ordenação pastoral
Ser consagrado pastor não foi algo que almejei, mas uma situação para a qual me senti conduzido, inevitavelmente. O mesmo posso dizer em relação à minha permanência no meio evangélico, apesar de toda a minha indignação com o sistema religioso. Tal indignação apenas aumentou após a minha ordenação pastoral, pois comecei a perceber situações motivadas por inveja e competição dentro da própria liderança, além de práticas com as quais eu não poderia compactuar. Após um tempo orando a respeito, a clara direção de Deus foi que eu deixasse aquela denominação onde eu havia sido consagrado pastor. Não se tratava de ingratidão da minha parte, mas de uma questão de consciência. Se eu continuasse fazendo parte daquele ministério, eu seria conivente com o que estava ocorrendo, além do risco de ser mal influenciado.
Sendo assim, em agosto de 2001 entreguei minha credencial de pastor diretamente ao pastor presidente da denominação. Infelizmente, percebi que era isso mesmo que ele desejava que eu fizesse, pois nem sequer questionou o motivo da minha saída. Aquilo foi para mim uma grande decepção, pois eu havia dedicado três anos da minha vida àquele ministério, doando-me completamente. Todavia, tal situação me deu ainda mais certeza de que eu havia tomado a decisão correta, reforçando a minha percepção de que algo muito errado ocorre no sistema religioso, seja católico, protestante, evangélico, ou qualquer outro que se diga cristão.
Minha saída daquela denominação, no entanto, não resultou no que eu esperava. Eu havia imaginado que algum outro pastor do ministério fosse ocupar o meu lugar, mas a decisão do pastor presidente foi a de fechar o galpão onde ocorriam as reuniões e orientar os membros a congregarem em outra igreja do ministério. No entanto, muitos irmãos não tinham carro e o transporte de ônibus era muito deficiente naquela época. Sendo assim, decidiram continuar juntos, congregando, mas foram atrás de mim para que eu os continuasse pastoreando. Não aceitei, pois o meu desejo era voltar para o Rio de Janeiro com minha família, e congregar com o meu sogro na igreja que ele pastoreava. Porém, como eles insistiram, indo em minha casa por mais de uma vez para convencer-me, decidi orar a respeito, e tive a confirmação de Deus de que eu deveria ajudá-los.
Voltamos então a congregar com aqueles irmãos, porém no quintal da casa de um deles. As reuniões eram simples, mas todos estávamos muito felizes, sendo mutuamente edificados em Cristo. Foi então que cometi um gravíssimo erro. Apesar de ter sido um grande erro, hoje percebo que a minha decisão foi permitida por Deus para que eu pudesse compreender o quanto é impossível irmos contra o sistema religioso enquanto dele fizermos parte.O erro de iniciar uma nova denominação
Se naquela época eu soubesse o que hoje sei, e pudesse voltar no tempo, eu continuaria congregando com os mesmos irmãos, mas teria resistido à tentação de criar um nome para a igreja, escrever um estatuto, registrá-lo em cartório, criar doutrinas próprias da denominação, alugar um espaço público para as reuniões e colocar uma placa sobre a entrada, como se a igreja fosse um comércio. Ao invés disso, teríamos continuado a nos reunir na simplicidade de uma casa, tal como aqueles encontros informais que eu tanto gostava de participar, pois neles havia possibilidade para todos falarem sobre o texto bíblico lido, sem que qualquer um de nós estivesse em posição de destaque. E se o número de participantes aumentasse muito, impossibilitando o formato circular, então iniciaríamos uma segunda congregação na casa de algum irmão que tivesse um espaço adequado para as reuniões, mas preservando a unidade apenas pelo mesmo amor a Cristo, sem que uma congregação quisesse controlar a outra. Além dessas questões logísticas, se naquela época eu soubesse o que hoje sei, eu teria a ousadia de ser ainda mais fiel a Cristo, renunciando ao meu próprio título pastoral e abolindo qualquer cargo de liderança de irmãos sobre outros irmãos. Com isso não quero dizer que não existam diferentes dons, mas sim que não deve haver qualquer espécie de hierarquização para exercê-los.
Mas cometi o gravíssimo erro de ser um dos fundadores de uma nova denominação. E havendo eu nela permanecido por mais de vinte anos, posso garantir que a criação de qualquer novo ministério, ou denominação (como queira chamar), trata-se de um grande equívoco. Fui percebendo isso aos poucos, ao longo desse período.Tentativa de reforma
Porém, na medida em que os inevitáveis problemas do sistema religioso foram surgindo, ao invés de reconhecer o erro que cometi, eu tentava diminuir ao máximo os efeitos nocivos. Tal tentativa de reforma, no entanto, só começou a ocorrer após 2008. Os primeiros sete anos foram de uma denominação que era mais do mesmo que já havia naquela época, o que resultou na saída do pastor auxiliar, que levou consigo mais da metade dos membros para uma outra denominação. Mas foi então que tive um novo despertamento e fiz a tentativa de uma reforma doutrinária. Por exemplo, comecei por ensinar que o templo não é o lugar onde Deus habita, mas sim que o seu Espírito habita em nós; a seguir, ensinei que em Cristo somos todos sacerdotes, pois temos livre acesso a Deus, e que ninguém é mais especial do que qualquer outro irmão; aboli as apresentações de cantores, conjuntos, e coreografias, pois tais práticas não trazem edificação, mas fomentam a competição e a vaidade entre os irmãos; acabei com as cobranças de dízimo, ensinando que os irmãos doassem por amor, e não por obrigação; destinei cada vez mais os recursos da igreja para socorrer irmãos carentes, seja doando cestas básicas, remédios, e até mesmo fazendo obras em suas casas; envolvi a igreja em ajudar o orfanato mais próximo, voltamos a dar assistência a moradores de rua, e passamos a colaborar com mais de uma casa de recuperação; aumentamos a contribuição a missionários no exterior; e, paralelamente a tudo isso, implantamos o modelo bíblico de reuniões em grupos menores nas casas, onde havia somente a liderança de Cristo, e todos podiam comentar livremente sobre a leitura do Novo Testamento.Efeitos colaterais inevitáveis
No entanto, a despeito de todas as mudanças parecerem excelentes, os efeitos colaterais de ainda fazermos parte do sistema religioso eram sempre manifestos. A começar pelo orgulho denominacional. Quanto mais nós tentávamos nos aproximar de uma correta prática do evangelho, tanto mais nos achávamos melhores que as outras denominações. Quando percebi esse problema, tentei eliminá-lo procurando ensinar que não éramos uma denominação, em competição com outras, mas apenas uma proposta de sermos bíblicos e cristãos. Porém, hoje percebo que eu estava enganando a mim mesmo com essa argumentação. A partir do momento em que criamos uma nomenclatura para o ministério, criou-se uma denominação, e não há como se negar esse fato. Havia até uma logo, a qual nós chegamos a estampar em camisas. Outro efeito colateral, foi que a partir do momento em que nos distanciamos das práticas da maioria das outras denominações, tais como não termos conjuntos para cantar nos cultos e eventos, e não mais cobrarmos dízimo, passamos a ser vistos como seita pelas demais igrejas evangélicas. Eu, particularmente, passei a não receber mais convites para pregar em outras denominações. Antes de 2008 eu recebia de três a quatro convites todo mês para pregar fora, mas, na medida em que a notícia da nossa reforma doutrinária foi se tornando conhecida, outros pastores, que eu tinha como amigos, temiam me convidar para pregar. Em contrapartida, nós também não os convidávamos, pois eles poderiam pregar o que estava na moda, tal como a teologia da prosperidade, e não o verdadeiro evangelho.Uma última tentativa
Minha última tentativa de trazer o ministério para ainda mais perto do modelo bíblico foi quando, em 2018, iniciou-se o que chamei de Projeto Quero Congregar. A ideia inicial era de se replicar pelo Brasil o modelo de reuniões nas casas que tínhamos toda semana em São Gonçalo, mas com esses irmãos sendo amparados pelo nosso ministério, via internet. As reuniões deveriam ser simples, mas edificantes, pois os irmãos estariam se admoestando mutuamente, tal como Paulo orientava nas cartas às igrejas. Mas, infelizmente, não deu certo. A maioria dos irmãos que se cadastravam no Projeto Quero Congregar nutriam a expectativa de congregarem num local público, de terem um pastor local, e de comodamente ouvirem pregações, ao invés de mutuamente se edificarem Cristo. Pressionado, cometi o erro de me dobrar a essas expectativas, ajudando esses irmãos no processo que almejavam. Hoje me arrependo de tê-lo feito, pois percebi que a maioria das congregações foram se afastando da simplicidade que há em Cristo, e algumas passaram a almejar coisas grandiosas aos olhos dos homens.
Refletindo em toda essa situação, agora percebo o quanto eu mesmo também estava me afastando da simplicidade que há em Cristo. Minha constante atitude defensiva para com os que questionavam a denominação fez com que eu me indispusesse com irmãos queridos, com os quais eu teria mantido amizade não fossem as exigências da minha posição. Ou melhor, as exigências de um sistema religioso que não foi elaborado por Cristo.Obedecendo a Cristo
Cansado de lutar por mais de vinte anos contra um sistema cujo modelo está implantado há mais de mil anos, finalmente percebi ser impossível vencer essa batalha fazendo parte desse mesmo sistema. Refiro-me a se fazer parte de uma instituição religiosa, com todas as consequências que isso acarreta, tal como a hierarquização entre os irmãos, a obrigatoriedade de todos adotarem uma particular confissão de fé, a imposição de regras, e o mais grave, a sutil idolatria denominacional e ao “templo”. Sendo assim, após obedecer a diversos direcionamentos do Senhor, os quais eu não estava percebendo aonde me levariam, foi somente no final de outubro de 2024 que compreendi qual era a sua vontade para a minha vida.
Os primeiros a serem comunicados foram os pastores do colegiado que meses antes havia sido formado no ministério. Em seguida, comuniquei a todos os demais pastores por videoconferência, em 28 de outubro de 2024, fazendo a leitura de um texto explicativo que escrevi com muito cuidado. Não houve contestação por parte de qualquer um dos pastores, fazendo-me lembrar da reação daquele pastor presidente quando lhe comuniquei minha saída da sua denominação. Isso me deu ainda mais certeza de que eu estava cumprindo a vontade de Deus para minha vida. Minha missão com aqueles irmãos estava cumprida.
Um dia após a reunião por videoconferência, tornei esse comunicado público, fazendo a leitura desse mesmo texto através de um vídeo publicado no Youtube. Não demorou para que eu tivesse que gravar outro vídeo, e mais outro, a fim de me defender das distorções que alguns estavam fazendo de minhas palavras.
E foi assim que cheguei na presente situação em que me encontro, sem fazer parte de qualquer denominação, mas em paz com Deus, com minha consciência, e com qualquer outra pessoa.
Resumi a minha jornada o máximo que pude, deixando de fora deste relato diversas situações importantes. Porém, creio que os momentos aqui compartilhados já bastam para se ter uma ideia de quem sou.
Encerro esclarecendo alguns pontos que necessito reforçar:
Para me conhecer ainda melhor, confira alguns vídeos em meus dois canais no Youtube: