“Imergir” ou “mergulhar” são opções para uma tradução literal do verbo grego “baptízo” (βαπτίζω), do qual deriva o substantivo “baptisma” (βάπτισμα) – vocábulos que, ao invés de traduzidos, foram transliterados para o português, resultando em “batizar” e “batismo”.1
A prática da imersão em água existia como um rito de purificação judaico prescrito pela Torá para certas situações como, por exemplo, um judeu ter tocado num cadáver, ou após haver fluxos corporais (Levítico 11–15 e Números 19). No período do Segundo Templo essa prática foi organizada em tanques chamados “mikvaot”, e exigida também dos prosélitos (gentios convertidos) os quais, depois de circuncidados (no caso dos homens) e de apresentarem oferta, eles eram completamente mergulhados na água, simbolizando a limpeza da “imundície” pagã e o seu renascimento como membros do povo de Israel.2
João Batista trouxe uma surpreende inovação acerca da imersão em água quando passou a batizar os próprios judeus, conclamando-os ao arrependimento de pecados como se fazia com os prosélitos, e exigindo que passassem a agir com misericórdia, honestidade e compaixão (Lucas 3:7-14).3
Jesus foi também batizado por João, embora este tenha procurado se opor a isso (Mateus 3:13-17). Os discípulos de Jesus também chegaram a realizar batismos em certo momento do seu ministério (Jo 3:22; 4:1-3), sendo essa prática ordenada pelo Senhor após a sua ressurreição, porém não significando apenas um sinal de arrependimento de pecados, mas também um testemunho público de fidelidade a Cristo pelo poder do Espírito Santo que neles agiria (Mt 28:18-20; Mc 16:15-16; At 2:38-42).4
1. “Batizar”, “batismo” e “batista” são termos que não foram traduzidos, mas apenas transliterados do grego. Caso houvesse tradução desses termos, possivelmente conheceríamos “João, o Batista” como “João, o Imersor”, e veríamos escrito em nossas Bíblias “imergir” e “imersão”, ao invés de “batizar” e “batismo” – pois baptízō é um verbo grego que significa mergulhar por completo. Eis um exemplo de como leríamos se a tradução fosse literal:
“E, naqueles dias, apareceu João, o Imersor, pregando no deserto da Judéia [...] E eram por ele imersos no rio Jordão, confessando os seus pecados.”
(Mt 3:1,6)
A tradução literal do grego “baptízo” impediria outras traduções errôneas, tais como “eu vos batizo com água”, quando a tradução correta seria “eu vos batizo em água.” Ora, não se pode imergir alguém com água, mas em água – e, de fato, a preposição “em” é o que consta no texto grego. Exemplo disso é a tradução de Marcelo Musa Cavallari, onde corretamente se lê “eu vos mergulho em água” (Mt 3:11).
2. “Algumas pessoas das chamadas nações gentias [...] queriam se identificar com Israel, de modo a poder adorar o Deus verdadeiro corretamente. Elas queriam tornar-se judias – não racialmente, pois isso seria impossível, mas religiosa ou espiritualmente. O sistema que lhes permitia fazer isso era chamado cerimônia de proselitismo. Esta continha três partes: circuncisão, sacrifício de animais e batismo. O batismo implicava ser imerso na água. Ele representava o gentio morrendo para o mundo gentílico e, depois, surgindo numa nova vida como membro de uma nova família, num novo relacionamento com Deus. Foi na imersão de prosélitos gentios que o batismo surgiu pela primeira vez na história da redenção.” John MacARTHUR, Jr. Redescobrindo o Ministério Pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 1998. p. 402.
3. “Dizer aos judeus que precisavam ser batizados ou se arrepender, assim como os não judeus, teria soado ofensivo, porque contrariava a crença judaica predominante a respeito da salvação. Para a maioria dos judeus, se a pessoa houvesse nascido em família judaica e não rejeitasse a lei de Deus, ela seria salva; João, em vez disso, diz que eles precisam vir a Deus, assim como os não judeus. Aspecto central do batismo de João é o fato de que todos devem se aproximar de Deus nas mesmas condições.” Craig S. KEENER. Comentário Histórico‑Cultural da Bíblia: Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2017. p. 145.
4. Algumas pessoas têm dúvida se no momento do batismo o correto seja dizer “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19), ou “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38), ou “em nome do Senhor Jesus” (Atos 8:16; 19:5) ou apenas “em nome do Senhor” (Atos 10:48). Essa dúvida parte de um pressuposto equivocado, a saber, a ideia pagã de que o batismo seja um ritual que necessite de palavras específicas para ter efeito espiritual. Ora, não é o batismo que salva, sendo ele apenas um testemunho público da fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador. As referidas passagens de Atos não estão ensinando o que deve ser dito no momento do batismo, mas na autoridade de quem ele está sendo realizado. Na época em que o Novo Testamento foi escrito a expressão “em nome de” era compreendida pelos judeus como “na autoridade de” ou “na pessoa de” – ou seja, essa expressão apenas quer nos dizer que os batismos estavam sendo realizados em obediência ao Senhor e com a sua autoridade. Semelhantemente, a expressão “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” não deve ser entendida como se fosse um encantamento, isto é, uma frase sem a qual o batismo não teria validade. O mais importante é certificar-se de que a pessoa a ser batizada compreendeu o evangelho, arrependendo-se dos seus pecados e depositando na graça de Deus que há em Jesus Cristo toda a sua confiança para o perdão e regeneração pelo poder do Espírito Santo (Atos 2:38-39; 8:37). Talvez seja importante para alguns acrescentar-se a esta nota o seguinte fato: todos os manuscritos conhecidos publicamente que contém o final do Evangelho Segundo Mateus apresentam a expressão “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Todos os manuscritos, incluindo os mais antigos disponíveis. Portanto, embora alguns teólogos afirmem que Mateus 28:19 possa tratar-se de um acréscimo litúrgico, como dito na nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, tal suspeita não pode ser confirmada.
Escrito por Alan Capriles
Atualizado em 02/07/2025