O termo “fruto” não necessitaria de explicação caso fosse utilizado apenas de modo literal, ou seja, significando o fruto de alguma árvore, ou colheita agrícola. Há, no entanto, diversas passagens do Novo Testamento onde “fruto” é mencionado simbolicamente, como ilustração para significar o efeito ou resultado de algo.
Um ótimo exemplo encontra-se no versículo a seguir, onde o termo grego “karpós” foi traduzido literalmente como “fruto” na versão Almeida Corrigida Fiel, mas como “resultado” na Almeida Revista e Atualizada:
“E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte.”
Romanos 6:21 - ACF
“Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte.”
Romanos 6:21 - ARA
A primeira ocorrência de “karpós” no Novo Testamento encontra-se na exigência de João Batista aos que o procuravam para ser batizados, e nos revela como devemos compreender esse termo:
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.”
Mateus 3:8
Isso significa que um verdadeiro arrependimento produzirá resultados visíveis, ou seja, mudança de comportamento e de atitude, tal como ilustrado pelo próprio João Batista na passagem paralela em Lucas, onde misericórdia, honestidade e compaixão são os efeitos práticos (frutos) na vida de alguém que realmente se arrependeu (Lc 3:8-14). De fato, a frutificação é a marca característica de um discípulo de Cristo:
“Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.”
João 15:8
No entanto, o contexto do versículo acima nos lembra que todo bom fruto será o resultado de alguém permanecer unido a Cristo, o qual é ilustrado na figura de uma videira – a videira verdadeira:
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo em mim, que não dá fruto, ele a tira; e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.”
João 15:1-5
Jesus comparou seus discípulos aos ramos ligados a uma videira. Os frutos ilustram a prática dos ensinamentos de Cristo, os quais resultarão de alguém estar apegado ao Senhor. Os ramos que dão bom fruto, ou seja, os discípulos que praticam o que Jesus ensinou, permanecerão cuidados pelo agricultor, que representa Deus, mas os que não frutificam, serão arrancados por Ele.
Devemos notar que os discípulos são comparados a ramos, mas não a frutos. Nos escritos do Novo Testamento o fruto nunca simboliza uma pessoa, mas sim a prática de vida dessa pessoa, através da qual a conheceremos.
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”
Mateus 7:15-20
O bom fruto é o resultado de alguém estar unido a Cristo, tal como ele mesmo advertiu: “Sem mim nada podeis fazer” (João 15:5). Essa compreensão é muito importante porque uma pessoa que faz o que é correto, mas com a errada motivação de ser elogiada e recompensada pelos homens, não dará frutos para Deus, mas para si mesma. Ora, o fruto é para o agricultor, não para o próprio ramo! Ou seja, o fruto deve ser sempre para a glória de Deus, (Mt 5:16; Rm 7:4; Fp 1:11) pois do contrário não será bom fruto, por mais que ele pareça bom aos olhos do homem.
Ao usar a expressão “fruto do Espírito” em Gálatas 5:22, Paulo não estava se referindo a algo diferente do que Jesus havia ensinado, ou diferente do “fruto de justiça” e do “fruto da luz” mencionado pelo próprio Paulo em outras de suas epístolas (Fp 1:11; Ef 5:9). Ele estava apenas enfatizando aos gálatas que o fruto se trata de uma ação “do Espírito”, ou seja, não resulta do esforço humano, mas de permanecermos unidos à videira verdadeira, que é Cristo, por meio da fé. O termo “fruto” foi mencionado no singular por esse motivo, pois há uma só origem desse fruto, embora o mesmo fruto seja caracterizado por muitas virtudes. Não devemos, portanto, limitar o fruto do Espírito às nove características mencionadas em Gálatas 5:22, pois certamente não se trata de uma lista completa. A “humildade”, a “misericórdia” e a “verdade”, por exemplo, não aparecem nessa relação, embora também sejam características do fruto do Espírito, ou seja, da transformação que o Espírito Santo realiza na vida de alguém que sinceramente almeja ser fiel a Cristo. Compare Gálatas 5:22 com Efésios 5:9 e Colossenses 3:12.
Escrito por Alan Capriles
Atualizado em 01/07/2025